LINDA

Te gosto chuva caindo chuva
me aprisionando neste apartamento
espaço apertado úmido
meio escuro meio grotesco
gosto de te ver pingar e respingar
salpicar e não me molhar
gosto dos teus beijos no vidro
dessa aparência latente de menina teimosa
que embaça a janela
esconde o horizonte
e foge do vento marcando tudo com água
gosto de tentar te descrever
de fazer insistentes teus gestos
de guardar em frascos teu cheiro
de inventar possuir e beijar teu ventre
gosto gosto muito
porque vens com força
porque vens contente
porque de repente paras e me deixas esperando
aí cometo a loucura de sair na rua
sem meu guarda-chuva
não posso perder o tempo de te admirar
gorda e flutuante
em gigantes nuvens anunciantes
de mais uma metamorfose
gosto de ti quando voltas chuva
e me fazes fugir como um menino assustado
porque voltas rápida e monstruosa numa tormenta
o medo passa quando fecho a porta
e te vejo linda e provocante através da janela



HINO



Misturando vinho com pele
não sentimos a cabeça
faca do tempo e lugar
cortando nossas bocas
ser feliz
nada como ser feliz
ser feliz
cantando um hino aos teus pés
não deixar essa noite acabar
não pensar
se todo o resto faz mal
ser feliz
nada como ser feliz